"Educar os jovens para a justiça e a paz": mensagem aos muçulmanos por ocasião do Ramadão
Decorre
desde 19 de julho e concluirá a 18 de Agosto o mês do Ramadão,
importante tempo de jejum e oração para todos os muçulmanos. Como
habitualmente, também este ano o Conselho Pontifício para o Diálogo
inter-religioso enviou aos Muçulmanos de todo o mundo uma mensagem,
ontem publicada. Inspirando-se no tema do Dia Mundial da Paz deste ano,
esta mensagem tem como título “Educar os jovens cristãos e muçulmanos
para a justiça e a paz”.
O texto recorda que “a autêntica justiça
vivida na amizade com Deus aprofunda as relações consigo mesmo, com os
outros e com toda a criação”. Para educar convenientemente na justiça e
na paz, há que ter sempre presente que “a paz não é mera ausência da
guerra”, mas sim “fruto da justiça e um efeito da caridade”. Finalmente,
recorda-se que os próprios jovens são também eles responsáveis pela sua
educação e formação para a justiça e para a paz.
Eis o texto integral da mensagem.:
CONSELHO PONTIFÍCIO PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
MENSAGEM PARA O FIM DO RAMADÃO - ‘Id al-Fitr 1433 H. / 2012 A.D.
Educar os jovens cristãos e muçulmanos para a justiça e a paz
"Caros Amigos Muçulmanos,
1.
A celebração do ‘Id al-Fitr, que conclui o mês do Ramadão, dá-nos a
alegria de apresentar-vos as cordiais felicitações do Conselho
Pontificio para o Diálogo Inter-religioso. Alegramo-nos convosco por
este tempo privilegiado que vos permitiu, mediante o jejum e outras
praticas de piedade, aprofundar a obediência a Deus, um valor para nós
também muito caro. É por tudo isto que este ano pareceu-nos oportuno
concentrar a nossa comum reflexão sobre o tema da educação dos jovens
cristãos e muçulmanos para a justiça e para a paz, que são inseparáveis
da verdade e da liberdade.
2. Como sabeis, se o dever da educação
é confiado a toda a sociedade, esse dever é, antes de mais, e de modo
especial, obra dos pais e, com eles, das famílias, das escolas e das
universidades, sem esquecer os responsáveis da vida religiosa, cultural,
social, económica e do mundo da comunicação. Trata-se de uma tarefa
bela e difícil ao mesmo tempo: ajudar as crianças e os jovens a
descobrir e a desenvolver os recursos que o Criador lhes confiou e a
estabelecer relações humanas responsáveis. Aludindo ao dever dos
educadores, Sua Santidade o Papa Bento XVI afirmou recentemente: “Por
isso são cada vez mais necessários testemunhas autênticas, e não meros
dispensadores de regras e informações… A testemunha é aquele que vive em
primeiro lugar o caminho que propõe” (“Mensagem para a Jornada Mundial
da Paz” 2012). Lembramos ainda que os jovens são também eles
responsáveis da sua educação como da sua formação à justiça e à paz.
3.
A justiça é determinada, antes de mais, pela identidade da pessoa
humana, considerada na sua integridade ; a justiça não pode ser reduzida
à sua dimensão comutativa e distributiva. Não esqueçamos que o bem
comum não pode ser conseguido sem solidariedade e amor fraterno! Para os
crentes, a justiça autêntica vivida na amizade com Deus aprofunda as
relações consigo mesmos, com os outros e com toda a criação. Além disso,
os crentes professam que a justiça tem origem no facto que todos os
homens são criados por Deus e são chamados a formar uma só e única
família. Uma tal visão das coisas, no absoluto respeito pela razão e
aberta à transcendência, interpela também todos os homens e as mulheres
de boa vontade, permitindo conjugar harmoniosamente direitos e deveres.
4.
No mundo atormentado em que vivemos, torna-se sempre mais urgente a
educação dos jovens para a paz. Para um empenho adequado deve-se
compreender a verdadeira natureza da paz que não se limita à ausência da
guerra, nem ao equilíbrio das forças contrapostas, mas é ao mesmo tempo
dom de Deus e obra humana a construir incessantemente. A paz é fruto da
justiça e um efeito da caridade. É importante que os crentes sejam
sempre ativos no seio das comunidades das quais são membros: praticando a
compaixão, a solidariedade, a colaboração e a fraternidade, e que
possam contribuir eficazmente a colher os grandes desafios do presente:
crescimento harmonioso, desenvolvimento integral, prevenção e resolução
dos conflitos, apenas para citar alguns.
5. Em conclusão,
desejamos encorajar os jovens muçulmanos e cristãos que queiram ler esta
mensagem, a cultivar sempre a verdade e a liberdade para serem
autênticos arautos da justiça e da paz e construtores de uma cultura
respeitosa dos direitos e da dignidade de cada cidadão. Convidamo-los a
terem a paciência e a tenacidade necessárias para realizar estes ideais,
sem recorrer a compromissos ambíguos, atalhos enganosos ou meios pouco
respeitosos da pessoa humana. Somente homens e mulheres sinceramente
convencidos destas exigências poderão construir sociedades onde a
justiça e a paz se tornarão realidade.
Queira Deus encher de
serenidade e de esperança os corações, as famílias e as comunidades
daqueles que nutrem o desejo de serem “instrumentos de paz”. Boa festa
para todos!"
Jean-Louis Cardinal Tauran, Presidente - Arcebispo Pier Luigi Celata, Secretário
Vaticano, 3 de Agosto de 2012
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