domingo, 15 de dezembro de 2013

3º Domingo do Advento: Criai ânimo, não tenhais medo!





Neste terceiro domingo do Advento, o domingo gaudete, da alegria, o Evangelho narra uma decepção. São João Batista está preso na fortaleza de Maqueronte, por ordem do rei Herodes, e, ali, anseia o cumprimento da profecia de Isaías: "O Senhor manifestará a seus servos seu poder, e aos seus inimigos sua cólera" (66, 14). Em seu exílio, João espera Aquele que "tem a pá na mão e limpará a sua eira", que "recolherá o trigo ao seu celeiro, mas queimará as palhas num fogo inextinguível" (Lc 3, 17).
Percebendo, no entanto, que Jesus vem com mansidão e que sua pregação está centrada na misericórdia, São João manda seus discípulos lhe perguntarem: "És tu aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?" (Mt 11, 3). João Batista não sabia a novidade que Jesus vinha trazer. Ele não estava errado em recordar a profecia de Isaías 66, como se esta fosse uma visão retrógrada de um "deus" violento e justiceiro. O que ele ignorava era que o Messias profetizado por ele e pelo Antigo Testamento não viria apenas uma vez, mas duas vezes: uma, na humildade e na misericórdia; e outra, na glória, como o "Rex tremendae majestatis - Rei de tremenda majestade" cantado no Dies Irae.
É este o testemunho de São Bernardo: "Na primeira vinda o Senhor apareceu na terra e conviveu com os homens. Foi então, como ele próprio declara, que viram-no e não o quiseram receber. Na última, todo homem verá a salvação de Deus (Lc 3, 6) e olharão para aquele que transpassaram (Zc 12, 10)"01. E também o testemunho de São Cirilo de Jerusalém: "Na primeira vinda, ele foi envolto em faixas e reclinado num presépio; na segunda, será revestido num manto de luz. Na primeira, ele suportou a cruz, sem recusar a sua ignomínia; na segunda, virá cheio de glória, cercado de uma multidão de anjos"02.
Para provar a João Batista que é "aquele que há de vir", Jesus recorda-o de outro trecho da profecia de Isaías, contindo na primeira leitura desta liturgia dominical: "Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos. Os que o Senhor salvou voltarão para casa. Eles virão a Sião cantando louvores, com infinita alegria brilhando em seus rostos; cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto" (35, 5-6a.10). O Messias virá com sinais de alegria, para trazer conforto ao povo exilado e maltratado de Israel.
A situação de João é difícil. Ele está preso em uma fortaleza, sob o jugo de um rei injusto, que o prendeu para satisfazer os caprichos de uma mulher de má vida. Talvez ele esperasse que a justiça viesse ainda para ele, que ele seria libertado daquele lugar, e, no entanto, o que vem é um Juiz manso e humilde. João Batista experimenta, então, aquilo que São João da Cruz - cuja memória a Igreja celebra hoje - chamou de "noite escura": aquela alma que vivia até então reconfortada pelas consolações de Deus, experimenta uma espécie de silêncio.
É diante desta realidade que o cristão precisa cultivar a virtude da esperança, sem a qual a vida se assemelha, no dizer de Santo Agostinho, à superfície de um lago refletindo o céu escuro e cinzento. "Criai ânimo, não tenhais medo!", diz o Messias. "Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para nos salvar" (Is 35, 3).
"Ele que vem para nos salvar": Ele verdadeiramente vem salvar o seu povo. A grande novidade cristã é que Deus irá salvar-nos fazendo-se pequeno, na Cruz. Por isso, Ele diz: "Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele" (Mt 11, 11). São João Batista é grande, mas maior é aquele que se fez pequeno e humilde para salvar-nos, isto é, o próprio Jesus.
É importante aguardar a segunda vinda de Cristo, na qual Ele "enxugará toda lágrima" e na qual "já não haverá morte" (Ap 21, 4), com o espírito de que fala São Pedro: "Reconhecei que a longa paciência de nosso Senhor vos é salutar" (2 Pd 3, 15). A paciência de Deus é fonte de salvação para nós! Quando clamamos justiça, devemos recordar que a justiça virá, mas não somente para os maus, como para todos, inclusive para nós. Jesus revelou uma vez a Santa Faustina Kowalska que terá a eternidade inteira para fazer justiça. Agora, porém, é o tempo da misericórdia.
Por fim, o Advento lembra à Igreja militante duas coisas importantes: a primeira é a ter esperança; a segunda, que nós podemos fazer grandes coisas com nossa penitência. Se realmente fizermos jejuns, vigílias e orações, estaremos trabalhando juntos com o Cristo na redenção da humanidade, que parece caminhar loucamente para o abismo e para a ruína. Com o coração verdadeiramente contrito, é possível repetir, então, com São Paulo: "Completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo" (Cl 1, 24).
No duelo entre o bem e o mal, o bem vencerá, o amor vencerá. A pergunta é de que lado estaremos quando Deus vencer.

Referências

  1. Sermo 5 in Adventu Domini, 1-3: Opera omnia, Edit. cisterc. 4 [1966], 188-190
  2. Cat. 15, 1-3: PG 33, 870-874

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