quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A confissão: o sacramento da humildade dos fiéis

“No nosso tempo, em que a fé, em vastas regiões da terra, corre o perigo de apagar-se como uma chama que já não recebe alimento...”. Foi assim que, na carta enviada a todos os bispos do mundo em 10 de março passado, Bento XVI descreveu a atual condição da fé. Pouco menos de um ano antes, falando aos participantes de um curso anual organizado pela Penitenciaria Apostólica, o Papa havia recorrido a expressões semelhantes, ao descrever o “apagar-se” da prática da confissão como sintoma da “desafeição” generalizada que se registra na Igreja em relação a esse sacramento.
A evocação da mesma imagem – do “apagar-se”, do esmorecimento – é por si só eloquente. O sacramento da confissão esmorece quando esmorece a fé.
A causa do esmorecimento da fé pode ser a liberdade do homem, quando, como no caso do jovem rico, uma pessoa diz não à atração amorosa da graça. Mas, ante o apagar-se da fé em vastas regiões da terra, a exigência primordial é de oração, uma vez que, “em se tratando de fé, o grande comandante é Deus, pois Jesus disse: ninguém vem a mim se meu Pai não o atrai”. Palavras de João Paulo I.
Tendo constatado que a principal causa do apagar-se do sacramento da confissão é o apagar-se da fé, podemos acrescentar que também contribuiu para o esmorecimento da prática desse sacramento o fato de a vida das comunidades cristãs ter mais como centro os grandes eventos que o cotidiano. E o cotidiano é feito de oração (“a pequena oração da manhã” e “a pequena oração da noite”, como o papa Bento XVI lembrou recentemente às crianças) e do perdão de nossas faltas. “Quotidie petitores, quotidie debitores” (Santo Agostinho). Devemos rezar todos os dias, devemos ser perdoados todos os dias. O Concílio Ecumênico Vaticano II, na Lumen gentium, observa que é justamente “nas condições ordinárias da vida familiar e social, pelas quais sua existência é como que tecida” que os fiéis “manifestam Cristo aos outros, especialmente pelo testemunho de sua vida resplandecente em fé, esperança e caridade” (nº 31).
Também o fato de já não sermos lembrados da trágica possibilidade de cometer o pecado de sacrilégio quando tomamos indignamente a comunhão (cfr. 1Cor 11, 27-32) pode ser outro motivo do esmorecimento da prática da confissão. Constatamos, com dor, que o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica já não fala do pecado de sacrilégio que cometemos quando omitimos propositalmente um pecado mortal na confissão ou quando tomamos a comunhão indignamente, ou seja, em pecado mortal.
Quando a acusação dos pecados é “humilde, completa, sincera, prudente e breve”, como aprendemos quando crianças no Catecismo de São Pio X, recebemos no sacramento da confissão, com o perdão, também a graça da humildade. Assim, a confissão é vivida como o sacramento da humildade dos fiéis, que torna possível tomar dignamente o sacramento da humildade do Senhor, de acordo com a fantástica definição que o Papa deu da eucaristia, “santíssimo e humilíssimo sacramento”.
A seção “Nova et vetera” reapresenta o artigo dedicado por Stefania Falasca ao frade capuchinho Leopoldo Mandic, santo confessor, em janeiro de 1999.
Quem se confessava com padre Leopoldo aprendia que não é preciso acrescentar discursos à acusação dos próprios pobres pecados (normalmente, confessar-se com padre Leopoldo era algo extremamente rápido): o simples fato de ajoelhar-se para confessar com sinceridade contém a dor necessária e suficiente para receber a absolvição.
Fonte: 30giorni

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