O mistério da iniquidade e a apostasia dos cristãos
Mais
uma vez o cristão deve ser confrontar com a pergunta de Cristo: "quando
vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?"
Os afrescos de Lucas Signorelli sobre o fim do mundo, expostos na
capela de São Brizio, na Catedral de Orvieto, traduzem um aspecto
dramático da história humana: a atuação do Anticristo. Para a Tradição
da Igreja, encontrada de maneira explícita no Didaquê - o primeiro
catecismo dos cristãos - este ser seria o sedutor do mundo, ou seja,
aquele que
"aparecerá como o filho de Deus e fará milagres e
prodígios; e a terra será abandonada em suas mãos; e realizará
iniquidades como nunca houve".
De uns tempos pra cá, a fé acerca do Juízo Final e da existência do
demônio tem se tornado obsoleta. Muitíssimas pregações dão enfoque
apenas à afabilidade de Deus e à sua misericórdia. Com efeito, uma vez
que se exclui a justiça divina e a sedução diabólica da catequese
cristã, abre-se caminho à banalização do mal, pois se o cristianismo já
não prega sobre o inferno, mas apenas sobre a ternura de Deus, isso
significa que já não é mais necessária uma mudança de vida para se
enquadrar nos desígnios de Deus. Afinal de contas, se Deus é amor e tudo
perdoa, concluem alguns, qual o sentido de se preocupar com o pecado?
Esse triste relativismo é uma tendência muito em voga nos tempos
atuais, sobretudo no que diz respeito aos valores inegociáveis da fé
católica e às perseguições que a Igreja sofre.
Ao invés de se
indispor com o mundo, a pessoa prefere não tomar partido de nenhuma
situação, para que possa agradar a todos, mesmo que isso signifique
negar a verdade. O Catecismo da Igreja Católica denuncia que
essa é uma atitude genuinamente diabólica: “a impostura religiosa
suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudo-messianismo em que o
homem glorifica a si mesmo em lugar de Deus e de seu Messias que veio na
carne”, (Cf. CIC 675).
O perfil do Anticristo, segundo o teólogo Cardeal Giacomo Biffi,
apresenta "altíssimas demonstrações de moderação, de desinteresse e de
ativa beneficência". Além disso, é um pacificista nato, com grandes
preocupações ecológicas e humanitárias. De Cristo, nega peremptoriamente
a moral, pois, de acordo com sua concepção, ela seria causa de
divisões. Em linhas gerais, ele traz uma promessa de libertação e
triunfo político, ou seja, um messianismo secularizado, qual propõe
algumas correntes teológicas por aí.
Esse falso misticismo foi
condenado pelo Magistério da Igreja diversas vezes como, por exemplo, na
encíclica Divini Redemptoris do Papa Pio XI sobre o comunismo ateu.
É curioso - e terrível ao mesmo tempo - perceber que numa época em
que já não se fala mais de Anticristo, Diabo e Juízo Final, mas
simplesmente de "amor" e platitudes, o número de violências, guerras e
outros males é absurdamente enorme como nunca antes. C.S. Lewis, autor
das Crônicas de Nárnia, escreve no seu livro
Cartas de um Diabo ao seu aprendiz que
a melhor maneira de o demônio conquistar o mundo é fazendo com que a humanidade não creia nele.
Ora, acaso não está cada vez mais comum encontrar cristãos que pregam o
amor, mas são incapazes de protestar contra o aborto? Pessoas que fazem
campanhas e propõem prisões a agressores de animais, mas sequer se
importam com o mendigo na porta da casa? Ou então aqueles católicos que
dizem amar Jesus, mas são negligentes com o pecado, sem perceber que
com isso eles são também responsáveis pelas chagas de Cristo na cruz?
Ora, denunciou o então Cardeal Joseph Ratzinger na Via-Sacra de 2005,
"não se pode continuar a banalizar o mal, quando vemos a imagem do
Senhor que sofre". E no entanto, o mal é o que mais se pratica hoje, e
por pessoas que se dizem cristãs!
Sim, o Anticristo está solto no mundo e tem feito muitos discípulos.
São servos do maligno aqueles que relativizam a verdade e propõem a
apostasia como alternativa à perseguição à Igreja. Enquanto os mártires
do passado morreram para que a fé católica fosse preservada e professada
hoje, muitos seguidores do Anticristo têm servido a cabeça da Igreja
numa bandeja para o príncipe deste mundo. Falam de amor, preocupam-se
com a natureza e pregam a paz, mas não se incomodam nem um pouco quando a
fé em Jesus Cristo é ultrajada pelas hostes infernais. É o "mistério da
iniquidade" predito pelo Senhor quando perguntou aos apóstolos: "quando
vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?" (Cf. Lc 18, 8).
Fonte :Equipe Christo Nihil Praepone