Aceitar sem medo a novidade e a surpresa de Jesus Ressuscitado em nossas vidas, alenta o Papa na Vigília Pascal
VATICANO, 31 Mar. 13 / 12:54 pm (
ACI/EWTN Noticias).-
Na homilia da
Vigília Pascal que celebrou na noite de ontem,
sábado santo,
na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco fez uma clara exortação a
aceitar ao Senhor Jesus Ressuscitado, cuja novidade e surpresa
transformam a
vida; e precisou que não existe situação que não possa mudar nem pecado que não possa ser perdoado se de verdade nos abrimos a Ele.
O
rito iniciou com a bênção do fogo e a preparação do círio pascal no
átrio da Basílica, enquanto se cantava o Exsultet. Durante a
Missa o Papa conferiu o
Batismo, a Confirmação e a Primeira Comunhão a quatro pessoas da Itália, Albania, Rússia e Estados Unidos.
Abaixo na íntegra estão as palavras do Santo Padre na ocasião:Amados irmãos e irmãs!
1.
No Evangelho desta noite luminosa da Vigília Pascal, encontramos em
primeiro lugar as mulheres que vão ao sepulcro de Jesus levando perfumes
para ungir o corpo d’Ele (cf. Lc 24, 1-3). Vão cumprir um gesto de
piedade, de afeto, de amor, um gesto tradicionalmente feito a um ente
querido falecido, como fazemos nós também. Elas tinham seguido Jesus,
ouviram-No, sentiram-se compreendidas na sua dignidade e acompanharam-No
até ao fim no Calvário e ao momento da descida do seu corpo da cruz.
Podemos imaginar os sentimentos delas enquanto caminham para o túmulo:
tanta tristeza, tanta pena porque Jesus as deixara; morreu, a sua
história terminou. Agora se tornava à vida que levavam antes. Contudo,
nas mulheres, continuava o amor, e foi o amor por Jesus que as impelira a
irem ao sepulcro. Mas, chegadas lá, verificam algo totalmente
inesperado, algo de novo que lhes transtorna o coração e os seus
programas e subverterá a sua vida: vêem a pedra removida do sepulcro,
aproximam-se e não encontram o corpo do Senhor. O caso deixa-as
perplexas, hesitantes, cheias de interrogações: «Que aconteceu?», «Que
sentido tem tudo isto?» (cf. Lc 24, 4). Porventura não se dá o mesmo
também conosco, quando acontece qualquer coisa de verdadeiramente novo
na cadência diária das coisas? Paramos, não entendemos, não sabemos como
enfrentá-la. Frequentemente mete-nos medo a novidade, incluindo a
novidade que Deus nos traz, a novidade que Deus nos pede. Fazemos como
os apóstolos, no Evangelho: muitas vezes preferimos manter as nossas
seguranças, parar junto de um túmulo com o pensamento num defunto que,
no fim de contas, vive só na memória da história, como as grandes
figuras do passado. Tememos as surpresas de Deus; temos medo das
surpresas de Deus! Ele não cessa de nos surpreender!
Irmãos e irmãs,
não nos fechemos à novidade que Deus quer trazer à nossa vida! Muitas
vezes sucede que nos sentimos cansados, desiludidos, tristes, sentimos o
peso dos nossos pecados, pensamos que não conseguimos? Não nos fechemos
em nós mesmos, não percamos a confiança, não nos demos jamais por
vencidos: não há situações que Deus não possa mudar; não há pecado que
não possa perdoar, se nos abrirmos a Ele.
2. Mas voltemos ao
Evangelho, às mulheres, para vermos mais um ponto. Elas encontram o
túmulo vazio, o corpo de Jesus não está lá… Algo de novo acontecera, mas
ainda nada de claro resulta de tudo aquilo: levanta questões, deixa
perplexos, sem oferecer uma resposta. E eis que aparecem dois homens em
trajes resplandecentes, dizendo: «Porque buscais o Vivente entre os
mortos? Não está aqui; ressuscitou!» (Lc 24, 5-6). E aquilo que começara
como um simples gesto, certamente cumprido por amor – ir ao sepulcro –,
transforma-se em acontecimento, e num acontecimento tal que muda
verdadeiramente a vida. Nada mais permanece como antes, e não só na vida
daquelas mulheres mas também na nossa vida e na história da humanidade.
Jesus não está morto, ressuscitou, é o Vivente! Não regressou
simplesmente à vida, mas é a própria vida, porque é o Filho de Deus, que
é o Vivente (cf. Nm 14, 21-28; Dt 5, 26, Js 3, 10). Jesus já não está
no passado, mas vive no presente e lança-Se para o futuro: é o «hoje»
eterno de Deus. Assim se apresenta a novidade de Deus diante dos olhos
das mulheres, dos discípulos, de todos nós: a vitória sobre o pecado,
sobre o mal, sobre a morte, sobre tudo o que oprime a vida e lhe dá um
rosto menos humano. E isto é uma mensagem dirigida a mim, a ti, amada
irmã e amado irmão. Quantas vezes precisamos que o Amor nos diga: Porque
buscais o Vivente entre os mortos? Os problemas, as preocupações de
todos os dias tendem a fechar-nos em nós mesmos, na tristeza, na
amargura… e aí está a morte. Não procuremos aí o Vivente! Aceita então
que Jesus Ressuscitado entre na tua vida, acolhe-O como amigo, com
confiança: Ele é a vida! Se até agora estiveste longe d’Ele, basta que
faças um pequeno passo e Ele te acolherá de braços abertos. Se és
indiferente, aceita arriscar: não ficarás desiludido. Se te parece
difícil segui-Lo, não tenhas medo, entrega-te a Ele, podes estar seguro
de que Ele está perto de ti, está contigo e dar-te-á a paz que procuras e
a força para viver como Ele quer.
3.
Há ainda um último
elemento, simples, que quero sublinhar no Evangelho desta luminosa
Vigília Pascal. As mulheres se encontram com a novidade de Deus: Jesus
ressuscitou, é o Vivente! Mas, à vista do túmulo vazio e dos dois homens
em trajes resplandecentes, a primeira reação que têm é de medo:
«amedrontadas – observa Lucas –, voltaram o rosto para o chão», não
tinham a coragem sequer de olhar. Mas, quando ouvem o anúncio da
Ressurreição, acolhem-no com fé. E os dois homens em trajes
resplandecentes introduzem um verbo fundamental: «Lembrai-vos de como
vos falou, quando ainda estava na Galiléia (...) Recordaram-se então das
suas palavras» (Lc 24, 6.8). É o convite a fazer memória do encontro
com Jesus, das suas palavras, dos seus gestos, da sua vida; e é
precisamente este recordar amorosamente a experiência com o Mestre que
faz as mulheres superarem todo o medo e levarem o anúncio da
Ressurreição aos Apóstolos e a todos os restantes (cf. Lc 24, 9). Fazer
memória daquilo que Deus fez e continua a fazer por mim, por nós, fazer
memória do caminho percorrido; e isto abre de par em par o coração à
esperança para o futuro. Aprendamos a fazer memória daquilo que Deus fez
na nossa vida.Nesta Noite de luz, invocando a intercessão da
Virgem Maria,
que guardava todos os acontecimentos no seu coração (cf. Lc 2, 19.51),
peçamos ao Senhor que nos torne participantes da sua Ressurreição: que
nos abra à sua novidade que transforma, às surpresas de Deus; que nos
torne homens e mulheres capazes de fazer memória daquilo que Ele opera
na nossa história pessoal e na do mundo; que nos torne capazes de O
percebermos como o Vivente, vivo e operante no meio de nós; que nos
ensine cada dia a não procurarmos entre os mortos Aquele que está vivo.
Assim seja.